Entre as novidades, um laser scanner 3D, capaz de identificar 400 milhões de pontos em 15 minutos

O perito criminal e presidente do Sindicato dos Peritos Criminais do Estado, Eduardo Becker, mostra as novidades tecnológicas do setor (Gustavo Tílio)

A tecnologia aplicada à perícia criminal foi um dos focos do XXVI Congresso Nacional de Criminalística, que começou na última terça-feira em Campinas e se encerra hoje. Com apoio de softwares e inteligência artificial, peritos criminais têm atuado na elucidação de crimes de forma mais ágil. Uma das novidades tecnológicas é um laser scanner 3D, capaz de recriar cenas de crimes em ambientes virtuais, garantindo maior precisão às investigações. 

Produzido pela empresa Trimble, o scanner é capaz de ler 400 milhões de pontos, a partir de feixes de laser, em 15 minutos. Para comparação, dois peritos analisando 40 pontos levam cerca de 40 minutos. A tecnologia é alemã e americana e os primeiros 10 scanners do mundo vieram para o Estado de São Paulo e estão à disposição da Polícia Científica. 

Segundo o engenheiro cartógrafo e gerente de produtos laser scanner da empresa Santiago & Cintra, Jackson Shiguemi Sakaue, o laser scanner é capaz de imortalizar a cena, porque o equipamento gera uma “maquete 3D” em tempo real, que pode ser armazenada e consultada a qualquer momento. 

Outro ganho é a chamada nuvem de pontos, que gera imagens 360º e, a partir dela, forma uma série de produtos para perícia, como cálculo de trajetória balística, deformação de acidente de trânsito e análise de manchas de sangue.

Dessa forma, os avanços tecnológicos conferem mais precisão aos laudos e maior segurança ao trabalho dos peritos criminais, principalmente em análises de locais de acidentes em rodovias. O scanner foi usado na reconstituição de um acidente entre um ônibus e um caminhão que matou 42 pessoas na cidade de Taguaí, em novembro de 2020. 

O perito criminal e presidente do Sindicato dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo (Smcresp), Eduardo Becker, esclarece que o laser scanner também foi usado recentemente na tragédia de Paraisópolis, propiciando a identificação de pessoas pisoteadas, com ganho de tempo. “Ele [scanner]agiliza nosso trabalho. Em um levantamento no local do crime, como no caso de Paraisópolis, quantas horas isso tomaria? Então, você perde tempo de funcionários fazendo aquilo. Quando a gente utiliza o scanner, consegue virtualizar todo o local. O scanner pega todas as nuances e aumenta a precisão dos dados coletados. Isso resulta em uma prova muito mais robusta para garantir o direito a um processo justo e com o contraditório do acusado. E você vai evitar o quê? Que inocentes sejam presos indevidamente. Não é só prender o criminoso, é garantir a liberdade.”

Softwares e crimes digitais

Entre outras novidades apresentadas no eventos, os softwares para extração de dados em celulares chegam para auxiliar na elucidação de um dos maiores desafios durante a pandemia: os crimes digitais. Desenvolvido pela TechBiz, ele consegue extrair dados de smartphones e outros dispositivos móveis. Por meio dessa ferramenta é possível recuperar até dados que haviam sido apagados, o que, segundo Becker, é fundamental às investigações dos mais variados crimes, desde pedofilia e golpes cibernéticos até casos de homicídio.

Na outra ponta, crimes envolvendo criptomoedas também ganharam ferramentas para averiguação. Uma delas é a Cellebrite Crypto Tracer, da TechBiz Forense Digital, que permite que peritos criminais apurem e documentem evidências sobre indivíduos que atuam nessa área.

O Congresso Nacional de Criminalística se encerra hoje, trazendo mesas com especialistas para o debate sobre a atuação da perícia criminal no Brasil. Participam cerca de mil pessoas e mais de 30 expositores.

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